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Noruega, o grito da natureza

Calma lá, essa não é uma história sobre ecologistas que a pleno pulmões defendem baleias, ou retumbante desastre ambiental, mesmo porque preservar as paisagens é responsabilidade de todos os noruegueses.

De que berro vou falar então?
Já vai longe o tempo que o artista norueguês Edvard Munch (1863-1944), cujo quadro mais conhecido, “O Grito”, escreveu em seu diário: “Já é tempo de pararmos de pintar cenas interiores com pessoas lendo ou mulheres fazendo meias. Devemos criar pessoas vivas que respiram e sentem, sofrem e amam”.

Pintura de um homem triste
Quadro “Melancolia”
crédito: ca.wikipedia.org

A obra de Munch que admirei nos museus noruegueses se tornou símbolo da depressão e da angústia do homem moderno, da adolescência à velhice. O artista foi um dos expoentes do expressionismo, movimento artístico que ia contra mostrar apenas cenas bucólicas, e sim retratar emoções e sentimentos humanos. E, pensar que Munch focou os dramas e frustrações da vida há 130 anos, e continua cada vez mais atual.

 

quadro que mostra a angustia de uma pessoa ao ver um céu avermelhado
Munch Museum
crédio: AFP JIJI

Quero lembrar também a importância que “O Grito”, tem até os dias de hoje. Munch fez quatro versões desse quadro que retrata a boca de estranha figura que se abre em um grito perturbador. É umas das três obras de arte mais parodiadas do mundo: uma série de Andy Warhol nos anos 80, personagens do desenho animado, quadrinhos dos Simpsons, a máscara Ghost face, quase sempre utilizada em filmes de terror, ou mais recentemente na película ‘Extraordinário’, em brinquedos Lego, e ainda estampa canecas, camisetas, cadernos, guarda-chuvas, e até sapatos.

 

nuvens avermelhdas e esverdeada
Nuvens estratosféricas
crédito:viramundo e mundovirado

“Eu passeava com dois amigos ao pôr-do-sol, o céu ficou de súbito vermelho sangue…havia línguas de fogo sobre o azul escuro do fiorde e sobre a cidade. Eu tremia de angústia e senti o grito infinito da natureza”, escreveu Munch em 1892. Recentemente pesquisadores noruegueses afirmaram que as linhas amarelas, vermelhas e laranjas são nuvens estratosféricas polares que, de tempos em tempos, surgem nos céus do norte da Europa.

Mas, há outra curiosa suposição: as nuvens que Munch viu eram efeito da violenta erupção do Krakatoa que dois anos antes explodiu na Indonésia. As cinzas e os gases rodaram o mundo várias vezes e na luz solar do entardecer geravam efeitos óticos impactantes.

Quadro de uma menina doente aolado mãe
“A criança doente”, irmã de Munch com 15 anos, cujo rosto que parece se resignar frente ao destino, é realçado pela moldura do quadrado branco formado pelo travesseiro
crédito: Munch Museum

De infância marcada pela tragédia e pela doença, a seu pai que se opunha terminantemente que se dedicasse à pintura, Munch sofreu ainda com a dependência do álcool. Mas sempre buscou na pintura um meio de cura, de resolver seu caos interior, e mais, de transmitir algum consolo às pessoas que se sentissem desamparadas diante das angústias da vida.
É para isso que a arte existe.Ilustração cajuzinho usada como ponto final das matérias da vmmv

 

Quadro de um home em pé ao lado de um relógio de chão
Autorretrato: entre o relógio e a cama
rédito: National Museum

Conheça as pinturas de Munch nos museus Munch Museum e no Nasjonalmuseet – Museu Nacional de Oslo – ambos na capital norueguesa.

* Matéria publicada originalmente no nosso blog Viagens Plásticas, do ViagemEstadao

 

 

ViramundoeMundovirado
"Viajamos para namorar a Terra. E já são 40 anos de arrastar as asas por sua natureza, pelos lugares que fizeram história, ou pela cultura de sua gente. Desses encontros nasceu a Viramundo e Mundovirado."

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